Paulo Leminsk
parem
eu confesso
sou poeta
cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face
parem
eu confesso
sou poeta
só meu amor é meu deus
eu sou o seu profeta
eu confesso
sou poeta
cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face
parem
eu confesso
sou poeta
só meu amor é meu deus
eu sou o seu profeta
Carlos Drummond de Andrade
Política Literária
A
Manuel Bandeira O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal,
tira ouro do nariz.
Simão Pessoa
Depois de comer aranha
minha cobra repousa murcha
numa infinita tristeza
Deito a amada de bruços
e minha cobra se levanta
para comer a sobremesa
AKAI
(1814-1862)
Manuel Bandeira
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Marco Gomes
poesia
tem que ter
cheiro de sangue
esperma e merda.
expressão de vida
nunca de sonhos.
poeta de quimera
tá morto, enterra.
Cecília Meireles
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
- ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Zemaria Pinto
exercício nº 13 (Also Sprach Zarathustra)
Agora vou dizer-vos sobre mim.
ó multidão destino e oceano.
Estai atenta para que as palavras
fundam-se em fogo e bronze na memória.
Dos homens ocos já trilhei caminhos,
plantei sementes de noturnos sonhos,
fiz-me passagem, ponte, travessia:
hoje sou ontem e amanhã e sempre.
Fui peregrino, traduzi montanhas,
levando em mim o caos que poderia
trazer à luz a mais brilhante estrela.
amei senão a alma transbordante
e a solidão dos poucos que souberam
viver a vida como se extinguindo.
Hilda Hilst
(...)
X
Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.
Celestino Neto
Bandeiras
Diz o ateu:
- Meu deus, quem diria?
anarquista funcionário público,
poeta marginal na Academia.
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
- ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Zemaria Pinto
exercício nº 13 (Also Sprach Zarathustra)
Agora vou dizer-vos sobre mim.
ó multidão destino e oceano.
Estai atenta para que as palavras
fundam-se em fogo e bronze na memória.
Dos homens ocos já trilhei caminhos,
plantei sementes de noturnos sonhos,
fiz-me passagem, ponte, travessia:
hoje sou ontem e amanhã e sempre.
Fui peregrino, traduzi montanhas,
levando em mim o caos que poderia
trazer à luz a mais brilhante estrela.
amei senão a alma transbordante
e a solidão dos poucos que souberam
viver a vida como se extinguindo.
Marcileudo Barros
Estradas
Feito estradas de sonhos,
todos lindos.
Cobrem os raios do dia findo,
todo o chão.
Eu me ponho nessa estrada,
ar de domingo
a plantar e recolher
sonhos com a mão.
Feito fogos de artifício
coloridos.
Cobrem os raios do dia findo,
todo o chão
E eu me ponho nessa estrada,
entretido
a colher e espalhar brilhos com a mão.
Essa estrada é um sonho
e esse sonho
se acaba a cada novo despertar
Só as crianças e os poetas
nela vivem
Não dependem de dormir
para sonhar.
Hilda Hilst
ODE DESCONTÍNUA E REMOTA PARA FLAUTA E OBOÉ. DE ARIANA
PARA DIONÍSIO.
(...)
X
Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.
Celestino Neto
Bandeiras
Diz o ateu:
- Meu deus, quem diria?
anarquista funcionário público,
poeta marginal na Academia.
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