DORI CARVALHO
O menino e os poetas
a Thiago de Mello
quando menino ganhei não presentes caros
mas cheios de sabedoria, delicados e raros
quatro livros de poesia, pura poesia
meu Deus, que descoberta, que alegria
Carlos Drummond de Andrade
ensinou-me a sentir a alma das cidades
Manuel Bandeira, mil bandeiras,
desde aí, caminhei sem eira nem beira
Pablo, isla negra, Neruda
mostrou-me a ternura e a vida desnuda
Thiago, amazônico Thiago de Mello
cantou-me que o mundo ainda pode ser belo.
um livro de muitas batalhas
El Che, Ernesto Guevara
sangrou-me o quanto a vida é cara.
e uma pataca de prata de quatrocentos réis
presente de aniversário do meu padrinho.
por isso, ando com esse sentimento do mundo
que tanto me faz sofrer e faz sonhar
por isso, o silêncio e a palavra
por isso, essa dureza e essa ternura
por isso, a sede de liberdade e as canções desesperadas
por isso, levo em meu coração um pouco de poesia
por isso, trago em minha boca um copo de pasárgada
que tanto me faz amar e viver
por isso, carrego na lembrança
o fuzil, que, in-felizmente, nunca usei
e a pataca de prata que perdi
e nunca soube multiplicar.
As tetas do povo
Fiquem aí os senhores
Mamando nas tetas
do povo
Enquanto o povo
Mama nas tetas
das pedras
cuidado senhores muito cuidado
qualquer dia
as pedras viram armas
qualquer dia
a fome vira raiva
qualquer dia
a casa cai
a casa cai
Descaminhos
Caí derrotado na glória
Manda brasa queimando ilusões
Tudo não passou de arremedo
No beco do macedo
Afogado na ponta negra
Andei com desleixo
Pela estrada do aleixo
Na vila da prata
A saudade quase mata
Frei José dos inocentes
Nem tão inocente assim
Itamaracara e coragem
No tiradentes enforcado
Gritei feito um demente
E ninguém ouviu
Murcharam os lírios do vale
Eldorado nem aqui
Nem no solimões
No raimundo
Nem rima nem solução
No são jorge
Fui guerreiro e dragão
Alvorada um dois três
Eu canto outra vez
E o sol não vem
No morro da liberdade
Manda brasa queimando ilusões
Tudo não passou de arremedo
No beco do macedo
Afogado na ponta negra
Andei com desleixo
Pela estrada do aleixo
Na vila da prata
A saudade quase mata
Frei José dos inocentes
Nem tão inocente assim
Itamaracara e coragem
No tiradentes enforcado
Gritei feito um demente
E ninguém ouviu
Murcharam os lírios do vale
Eldorado nem aqui
Nem no solimões
No raimundo
Nem rima nem solução
No são jorge
Fui guerreiro e dragão
Alvorada um dois três
Eu canto outra vez
E o sol não vem
No morro da liberdade
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