Ode ao poeta mordaz Simão Pessoa
Anibal Beça
A boca do poeta mordaz
Não se cala ao vento
Amordaça-o no vento
Em nó de nuvens.
Abençoada forquilha
De galho se abrindo
A língua se estica
Para a celebração
Do estilingue:
“Serpent: Penser
Present: Serpent”
Ó idolos de pés de barro
(descalços ou não)
ícones entronizados
mestres santificados
afastai vossas auras
para a passagem
das setas viperinas
(ou serão dardos de açucenas?)
yuppies-macuxis – suburucus
sintonizai vossas oiças:
todos terão trato adequado
latino-tropical
regado à
guarânia com guaraná
todos terão – sem exclusão –
a litania dos forcados
um dabacuri
um conciliábulo
de escárnio & maldizer
ao som
de guarânia com guaraná
dançada de parceria
com a vida
na sua antena em guarda
destruindo mil barreiras
e mais os cânones da província
Este Simão Pessoa
(guardem bem o seu nome)
é do meu chão
e do meu coração
e isto nada tem
com a rima fácil
e muito menos
com nenhuma solução
é apenas confissão:
se não me chamasse Anibal
me chamaria Simão
Fonte: Blog do Simão Pessoa
ECSTASY
A solidão me diz
que nem sempre laço
o que sempre quis
Como estou a mil
eu mando a solidão
pra puta que pariu
NASHUA
(1603-1678)
A PASSAGEM DA PRIMAVERA
No jardim em frente
sob vento forte
vibra a madressilva
Seu doce bailado
sugere uma bacante
de nudez lasciva
SUSHI
(1652-1703)
(de Matou Bashô e foi ao cinema)
Caramuri, a bola da Copa
Por Simão Pessoa
O projeto “Caramuri – a bola da Copa” continua dando muitos
panos pra manga.
Ontem, no finalzinho da tarde, eu, Mestre
Pinheiro, Edu do Banjo, Duduzinho do Samba e Beto Mafra fomos convocados pela
TV Amazonas (leia-se rede Globo) para uma entrevista com o repórter Rafael e
uma apresentação ao vivo da marchinha de sustentação da campanha.
O local escolhido para a lambança foi o
imponente Salão dos Espelhos do Atlético Rio Negro Clube, ainda ricamente
ornamentado por conta do último baile de carnaval.Adolescente, tentei
inutilmente furar o esquema de segurança do clube barriga-preta para entrar no
carnaval sem pagar e nunca consegui.
Dessa vez, entrei pela porta da frente e fui
recebido pelo presidente do clube.
Te mete!
A matéria deve ir ao ar no Globo Esportes desse sábado, se não chover.
A matéria deve ir ao ar no Globo Esportes desse sábado, se não chover.
Durante a entrevista, o Rafael me perguntou se eu já
conhecia a fruta caramuri.
Ilustrei minha resposta com um resumo desse causo
político abaixo, que teve como testemunha ocular o advogado Sergio Litaiff.
Junho de 1986.
Candidato a deputado federal, Carrel Benevides,
que era vereador em Manaus, resolve garimpar votos no município de Parintins e
embarca para lá, com uma comitiva de peso: Luiz Carlos Brandão, Messody Sabbá,
Sérgio Litaiff e o ex-prefeito de Presidente Figueiredo, jornalista Mário
Jorge.
A missão da comitiva era conquistar o apoio de uma
matriarca do clã dos Assayag, a superbacana Pérola Assayag, na época
responsável em Parintins pelo escritório da Taba (Transportes Aéreos da Bacia
Amazônica).
Ao atingir o espaço aéreo da ilha de Tupinambarana, o
pequeno bimotor que levava a comitiva do vereador começa a fazer uma série de
voos rasantes, o que incluía descidas em parafusos, voos cegos e arremates de
ponta-cabeça.
Os insulares, claro, ganham as ruas, não apenas
para apreciar as acrobacias aéreas, mas, principalmente, para torcer
secretamente por um erro do piloto, o que faria o bimotor se esborrachar no
chão.
É voz corrente na ilha dos bumbás que o verdadeiro
parintinense detesta pavulagem, principalmente durante o período eleitoral.
Depois de 15 minutos de acrobacias nos céus de
Parintins, finalmente o bimotor pousa na pista do aeroporto local, sob os
aplausos de milhares de pessoas.
Feliz da vida, o vereador Carrel Benevides desce do avião
acenando para os milhares de eleitores em potencial, que acorreram ao local em
busca do piloto-suicida.
Depois de distribuir autógrafos, como se fosse um
cantor de rock, Carrel sobe na traseira de uma picape e inicia uma apoteótica
carreata pelas ruas da cidade.
Sérgio Litaiff, Mário Jorge e Luiz Carlos Brandão,
também aboletados na traseira da picape, providenciam uma queima de morteiros
digna de uma milícia taleban.
Depois de azucrinarem a população com o estampido
de dez mil tiros de morteiros naquela pachorrenta manhã de domingo, a comitiva
para na frente da casa de dona Pérola Assayag.
Sem saber do que se tratava, ela, hospitaleira como sempre,
pede pra turma entrar e serve limonada, refrigerante, cafezinho, bolo de milho,
pudim de leite e tapioquinhas no coco.
Quando Carrel se apresenta e discorre sobre suas
reais intenções, dona Pérola é de uma sinceridade genuinamente parintintim.
Limpando as mãos no avental imaculadamente branco,
ela mira o vereador nos olhos e dispara um exocet de médio alcance:
– O senhor é caramuri!
Carrel Benevides entende “caramuru” e fica todo
pimpão.
Caramuru, como todo mundo sabe, foi o apelido que os
tupinambás da Bahia puseram no português Diogo Álvares – náufrago que teria
atingido as costas baianas em 1510 – depois de ele ter dado uns tiros de
bacamarte pra cima para assustar os nativos e que significa “filho do trovão”.
Os dez mil tiros de morteiros haviam servido para
alguma coisa.
Com o ego mais inflado do que nunca, o vereador
resolve mostrar que foi um bom aluno de História do Brasil:
– Obrigado pela comparação elogiosa, dona Pérola,
mas o nome correto não é caramuri, é caramuru...
Aí foi a vez de dona Pérola chutar o pau da barraca:
Fonte: Blog do Simão Pessoa
– Não, meu filho, o nome certo é caramuri. Esse é
o nome de uma frutinha que só dá aqui de quatro em quatro anos, igualzinho a um
bocado de políticos...
O papo mixou na mesma hora.
Dez minutos depois, Carrel abandonava a ilha, sem
fogos de morteiros ou aplausos apoteóticos, mas bastante injuriado com a
história do caramuri.
Mesmo assim se elegeu deputado federal
constituinte, atropelando na reta final um candidato-anta chamado Antar. Mas isso é uma outra história.
A poesia pode ser uma merda, banal e superficial, mas o Simão é gente fina. Lamento que o Lé faça diferença entre maconha e álccol. O Álccol é o pai, a maconha , o THC, é alcalóide, sobrinho, fraquinho. O Lë. usuário de ambos os expansores sensoriais, sabe bem a diferença! Parabéns , Simão!
ResponderExcluirDo seu amigo poeta injustiçado
Alexandre Otto